Karmapa significa “aquele que conduz a atividade búdica” ou “a personificação de todas as atividades dos Budas”. Na tradição tibetana, diz-se que grandes mestres iluminados são capazes de controlar conscientemente suas reencarnações a fim de dar continuidade à sua atividade para o benefício de todos os seres sencientes.

O primeiro Karmapa, Dusum Khyenpa, nasceu em 1110. Ele foi o primeiro grande mestre tibetano a estabelecer uma linhagem de reencarnação. Desde sua morte em 1193, sucessivos Karmapas encarnaram nesta forma de corpo de manifestação (nirmanakaya), por dezesseis vidas até agora, e todos eles desempenharam o papel mais importante na presenvação e promulgação dos ensinamentos budistas do Tibete.

Ao longo dos séculos, os Karmapas têm sido a figura central na continuação da linhagem Vajrayana, em geral, e da linhagem Kagyu, em particular, e têm desempenhado um papel muito importante na preservação das linhagens de estudo e prática do budismo.

Em Junho de 1985 nasceu um filho em uma família nômade na região de Lhatok do Tibete oriental. O jovem menino nômade foi chamado Apo Gaga, “Irmão Feliz”. Desde o início, sua família o considerava especial, e acreditava que ele poderia ser a reencarnação de um rinpoche. Quando tinha quatro anos de idade, eles o levaram ao monastério local para começar a sua educação, embora continuasse a passar muito do seu tempo em casa com a família.

Então, no final da primavera de 1992, o menino que agora estava com sete anos de idade, anunciou a seus pais que eles deveriam mover seu acampamento para um vale diferente, e disse-lhes para esperarem a visita de monges viajantes. Eles fizeram como ele disse e, logo após a instalação da casa no novo local, um grupo de lamas Karma Kagyu chegou. Sem o conhecimento da família, os lamas estavam procurando a reencarnação do XVI Karmapa, seguindo as instruções deixadas em uma carta de predição secreta, escrita pelo XVI Karmapa antes de morrer. Esta carta continha detalhes do ano de seu renascimento, a localização e os nomes dos seus futuros pai e mãe, e os detalhes combinavam exatamente com a vida de Apo Gaga. Ele foi devidamente reconhecido como o XVII Karmapa e recebeu o nome Ogyen Drodul Trinley Dorje.

Sua Santidade o XIV Dalai Lama emitiu uma carta formal, apoiando o reconhecimento de Apo Gaga como o XVII Gyalwang Karmapa, e o Governo chinês também apoiou a escolha. Diante de milhares de devotos tibetanos e estrangeiros, ele foi entronizado em 27 de Setembro de 1992.

Em Tsurphu, Karmapa começou seus estudos de tibetano, das ciências budistas da mente, ritual e das artes sagradas, como a dança. Diariamente, ele também dava audiência a centenas de visitantes de todo o Tibete e de todo o mundo. Logo, ele começou a conceder iniciações e participar de vários rituais no monastério. Aos dez anos de idade, Sua Santidade começou a reconhecer as reencarnações de outros lamas Kagyu, incluindo eminentes professores como Pawo Rinpoche, Jamgon Kongtrul Rinpoche e Dabzang Rinpoche.

No entanto, a fim de exercer o seu futuro papel, Sua Santidade precisava receber todas as iniciações e transmissões da linhagem, mas ele foi incapaz de fazê-lo no Tibete, já que muitos dos professores da linhagem Kagyu estavam vivendo em exílio na Índia. Com esta intenção em mente, ele e um grupo de atendentes deixaram o Tibete e foram para a Índia.

Depois de meses de cuidadoso planejamento, em 28 de Dezembro de 1999, então com quatorze anos de idade, Karmapa fingiu entrar em um retiro solitário. Em vez disso, ele retirou suas vestes de monge, vestiu trajes civis e saiu por uma janela, acompanhado por seu assistente pessoal, Drubngak. Deixando o Mosteiro de Tsurphu com um punhado de assistentes, ele começou uma jornada heróica que viria a ser manchete em todo o mundo. Para grande surpresa e grande alegria dos devotos tibetanos exilados e estrangeiros, em 05 de Janeiro de 2000 ele chegou em Dharamsala, na Índia, onde foi recebido por Sua Santidade o XIV Dalai Lama. Um ano mais tarde, em 2001, ele recebeu o status de refugiado por parte do governo da Índia.

Durante os 13 anos que viveu na Índia como um convidado do governo indiano, Sua Santidade continuou sua formação monástica tradicional e educação filosófica, mas também começou a estudar assuntos mais modernos, tais como Ciência e idioma Inglês.

Anualmente, o XVII Gyalwang Karmapa recebe dezenas de milhares de visitantes de todo o mundo em sua residência em Dharamsala. Desde 2004, ele tem liderado o Kagyu Monlam Chenmo, um encontro anual de Dharma em Bodhgaya, que atrai milhares de pessoas de todo o mundo e de várias tradições budistas.
Em maio de 2008, Sua Santidade fez a sua primeira viagem, há muito esperada, para o Ocidente, viajando para os Estados Unidos.

Como um erudito e mestre de meditação, bem como pintor, poeta, compositor e dramaturgo, o Gyalwang Karmapa incorpora uma ampla gama de atividades com as quais os Karmapas se envolveram ao longo dos séculos. Como um ativista ambiental, entusiasta da informática e líder espiritual mundial, cujos ensinamentos são muitas vezes transmitidos ao vivo, o XVII Gyalwang Karmapa trouxe as atividades da linhagem dos Karmapas totalmente para o século 21.

A Sagrada carta de predição de Sua Santidade, o XVI Gyalwang Karmapa
Em janeiro de 1981, o XVI Gyalwang Karmapa deu para seu filho do coração, o XII Tai Situpa, um amuleto revestido de brocado (tecido com desenhos em relevo) e disse: “Este é seu amuleto de proteção. No futuro, proporcionará grande benefício”. Este amuleto de proteção continha a carta predizendo o renascimento do Karmapa como Ogyen Trinley Dorje. Ela descrevia exatamente os nomes dos pais do XVII Karmapa e o local e a hora de seu renascimento.

“Emaho. Autoconhecimento é sempre bem-aventurança;
O dharmadhatu não tem centro nem borda.
Daqui para o norte [a] leste [da terra] de neve
É um país onde o trovão divino resplandece espontaneamente
[Num] bonito vilarejo nômade com o sinal de uma vaca
O método é Döndrub  e a sabedoria é Lolaga
[Nascido no] ano daquele
usado para a terra
[Com] o som miraculoso e de longo alcance
daquele que é branco;
[Eis] o conhecido como Karmapa.
Ele é amparado por Lord Donyö Drupa;
Sendo não sectário, permeia todas as direções;
Não ficando próximo a alguns e distante de outros, é o protetor de todos os seres;
O sol do Dharma de Buddha que beneficia os outros sempre resplandece.”
Através desta carta de predição, Sua Santidade o XVII Gyalwang Karmapa foi encontrado e entronizado em 1992.