Shangpa Kagyu

História da Linhagem Shangpa Kagyu

A linhagem Shangpa Kagyu foi estabelecida no Tibete pelo erudito realizado Khyungpo Naljor (990-1139). Inicialmente, Khyungpo Naljor estudou e praticou as tradições Bön e Dzogchen. Em seguida, partiu em busca de mais ensinamentos na Índia, retornando com a quintessência das instruções de cento e cinquenta mestres, dos quais os mais importantes foram:

  • As dakinis de conhecimento primordial Niguma e Sukhasiddhi;
  • Maitripa;
  • Rahula


Realizou e transmitiu os Cinco Ensinamentos de Ouro e os Cinco Últimos. “Cinco Ensinamentos de Ouro”, porque Khyungpo Naljor recebeu os ensinamentos de Niguma após oferecer-lhe uma grande quantidade de ouro. O número corresponde a uma progressão da prática, ilustrada por uma árvore, a árvore da realização da tradição Shangpa, na qual as raízes são as seis doutrinas de Niguma; o tronco é uma prática especial do Mahamudra chamada “Mahamudra Relicário”; os três galhos são os métodos de integração da experiência do Mahamudra em toda situação, ou seja, os “três meios de realização da prática”; as duas flores são as práticas com as dakinis branca e vermelha; o fruto é a imortalidade além de todo erro.

O primeiro Ensinamento de Ouro, as raízes da árvore, é o fundamento e consiste nos 6 Yogas de Niguma:

  • Tümo: calor interior, calor e beatitude, união da grande beatitude e da vacuidade;
  • Corpo Ilusório: caráter ilusório das experiências, liberação do apego e da aversão;
  • Sonho: purificação das ilusões, compreensão das aparências do mundo;
  • Clara Luz: eliminação do obscurecimento mental;
  • Bardo: reconhecimento da natureza do bardo;
  • Transferência da Consciência: obtenção da liberação no momento da morte.


O segundo Ensinamento de Ouro, o tronco da árvore, é o Mahamudra Relicário, ou seja, a tradição de Mahamudra que Khyungpo Naljor recebeu de Niguma. Tem por preliminares os “três modos naturais” do corpo, da palavra e da mente e a liberação espontânea dos quatro obstáculos que impedem o reconhecimento do mahamudra: está muito próximo para ser reconhecido; é muito profundo para ser apreendido; é muito simples para se acreditar; e é muito maravilhoso para ser compreendido apenas intelectualmente. A liberação desses quatro obstáculos revela a presença espontânea dos três corpos de Buda.

O terceiro Ensinamento de Ouro, os galhos, consiste em três métodos de integração que permitem cultivar a continuidade da experiência do Mahamudra em todas as circunstâncias e estão relacionados com o Lama, o yidam e a experiência de ilusão de todos os fenômenos.

O quarto Ensinamento de Ouro, as flores, consiste em duas práticas com as dakinis branca e vermelha que permitem, caso se mantenha fielmente os engajamentos, conhecer os domínios das dakinis sem abandonar o próprio corpo.

O quinto Ensinamento de Ouro, o fruto, é a imortalidade sem erro, isto é, no momento da realização última, a mente se realiza além das mortes e dos renascimentos.

Já os “Cinco Últimos” significa que Khyungpo Naljor realizou os cinco mais altos aspectos da divindade, o resultado último dos cinco principais tantras do Anuttarayoga Tantra agrupando, em um único mandala, cinco divindades (sadhana das Divindades dos Cinco Tantras): Guhyasamaja, Mahamaya, Hevajra, Chakrasamvara e Vajrabhairava. Esta prática, cuja origem remonta ao tantra “O Oceano de Joias”, lhe foi transmitida pelo mahasiddha Vajrasana e constitui a base do sistema iniciático Shangpa.

Khyungpo Naljor introduziu e difundiu no Tibete as doutrinas recebidas na Índia, em particular na província central de U-Tsang, especialmente numa região chamada Shang, de onde deriva seu outro nome “O Lama de Shang” e o nome Shangpa para a linhagem que se desenvolveu em seguida.

Viveu 150 anos e fundou mais de cem mosteiros, ensinando e manifestando numerosos milagres. Teve inúmeros discípulos, sendo o principal Mokchokpa (1110-1170), por meio de quem os ensinamentos foram passados para Kyergangpa (1143-1216), depois para Rigongpa Chökyi Shérab (1175-1247) e posteriormente para Sangye Tönpa Tsöndrü Senge (1213-1285), que constituem, junto com Vadjradhara, Niguma e Khyungpo Naljor, os sete primeiros mestres da linhagem, as “Sete Joias”.

As instruções que até então tinham sido transmitidas unicamente por via oral foram difundidas por Sangye Tönpa, que teve por discípulo Khedrup Tsangma Shangtön (Shangtönpa) (1234-1309), e colocadas sob a forma escrita por seus sucessores: Khetsün Shönu Drub (? -1319), Jagpa Gyaltsen Bum (1261-1334) e Serlingpa Tashipel (1292-1365).

Esta linhagem é dita “distante” e continuou sem interrupção no interior das escolas Kagyü, Nyingma, Sakya e Gelug. Duas outras linhagens, ditas “próxima” e “muito próxima”, surgiram de revelações diretas da dakini de conhecimento primordial Niguma. Suas origens respectivas são com o mahasiddha Thangtong Gyalpo (1361-1485) com a linhagem Thangluk e, de outra parte, Kunga Nyingpo ou Taranatha (1575-1635) com a linhagem Jonangpa.

Os diferentes ensinamentos que estavam dispersos convergiram novamente em uma linhagem única com Jamgön Kongtrul Lodrö Thaye, no século XIX. E foram passados para Trashi Chöpel, depois para Norbu Döndrub e, finalmente, para Kalu Rinpoche e Bokar Rinpoche, o atual hierarca da linhagem.

Os principais ensinamentos transmitidos pela linhagem Shangpa consistem nos cinco ciclos:

  • de Niguma, em particular os Cinco Ensinamentos de Ouro, que apresentam um conjunto coerente e conciso de um dos mais elevados e profundos métodos de realização;
  • de Sukhasiddhi, as 6 Yogas e o Mahamudra;
  • de Maitripa, a prática de Mahakala Tchadroupa;
  • de Abhaya, a prática das Divindades dos Cinco Tantras;
  • de Rahula, a prática conjunta das Quatro Divindades.

 

Esses ensinamentos constituem o coração da transmissão e das práticas nos centros Shangpa durante o tradicional retiro de três anos.

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